BABETH BETTENCOURT
da BBC Brasil
Os gays do Irã vivem sob constante ameaça não apenas da polícia e do governo, como também da sociedade, disse à BBC Brasil o ativista Arsham Parsi, diretor executivo da IRQO (Iranian Queer Organization), uma organização iraniana que luta pelos direitos dos homossexuais.
"A vida para um gay iraniano é muito dura, por falta de informação sobre o assunto e falta de segurança também. Ele tem que usar uma máscara 24 horas por dia. Você não pode ser jovem e gay no Irã", disse Parsi à BBC Brasil.
O próprio presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, deu uma idéia do drama enfrentado pelos gays no seu país, ao declarar, em uma palestra em Nova York, que não havia homossexuais no Irã.
"Ele [Ahmadinejad] nega a minha existência, assim como nega a existência do Holocausto e de prisioneiros políticos no Irã", disse Parsi.
Fuga
Falando do Canadá pelo telefone, Parsi conta que teve de fugir do Irã em 2005 quando descobriu que a polícia estava atrás dele.
Desde 2001 ele dirige uma organização de defesa dos direitos dos homossexuais.
"Comecei a organização no Irã através de uma rede de e-mails. Ela foi crescendo e em 2005 recebi ameaças por ser ativista. Eu trabalhava em casa, tinha meu telefone divulgado, e a polícia havia me rastreado. Quando descobri, deixei o Irã em dois dias, e nunca mais voltei", ele conta.
Um dos trabalhos da IRQO é, justamente, apresentar relatórios e divulgar, em outros países, a situação dos homossexuais no Irã.
"No passado", diz ele, "era mais difícil para homossexuais iranianos conseguir asilo em outros países por serem gays, já que não havia conhecimento dos riscos. O Ministério da Justiça nega que haja perseguição ou punição aos gays no país, mas sabemos que não é bem assim".
"Mesmo fora do país, muitos iranianos gays não assumem sua sexualidade, por temer a reação de suas famílias e da comunidade."
O próprio Parsi conta que, apesar de ser ativista pelos direitos gays, dar entrevistas e falar sobre o assunto na mídia internacional, a família dele não sabe que ele é homossexual.
Mas, desde que se mudou para o Canadá, Parsi explica que se sente livre para falar e fazer campanha pelo assunto.
Sharia
Segundo Parsi, de acordo com a lei islâmica Sharia, os homossexuais podem ser perseguidos e condenados à morte por apedrejamento, forca, corte por espada ou sendo jogados do alto de um penhasco. Um juiz da corte islâmica decide como ele deve ser morto.
"É impossível saber os números de execuções por homossexualidade, porque eles não são divulgados pelo Ministério da Justiça."
"Muitos não chegam a ser presos ou perseguidos pela polícia, mas são executados pela própria família", diz ele, "em geral, a sociedade apóia a perseguição dos gays."
Parsi explica que falta informação no país, onde se aprende na escola que a homossexualidade é proibida e vai contra as leis de Deus.
"Os iranianos não têm idéia da diferença entre homossexualidade, sodomia e pedofilia. Eles acham que homossexuais estupram crianças."
"Quando concluí que era gay sofri muito, me voltei para o islamismo, rezava para Alá 24 horas por dia pedindo que ele me fizesse uma pessoa melhor", conta Parsi.
Uma das propostas da IRQO é, justamente, educar a comunidade iraniana, dentro e fora do país, sobre a questão gay.
Mudanças
O diretor-executivo da IRQO conta que, na sua infância, não lembra de jamais ter visto a questão ser tratada pela mídia, mas, segundo ele, isso está mudando.
Ele próprio deu entrevista recentemente para o serviço persa da BBC, transmitido no Irã, e outras revistas abordam o assunto.
Parsi explica que a internet é o principal meio de comunicação da comunidade gay e que com o aumento da informação circulando, mais e mais escritores e poetas homossexuais vêm se manifestando e escrevendo sobre o assunto.
Sua organização recebe cerca de cem e-mails por dia de pessoas pedindo informações, e a revista online por eles editada tem 5.000 assinantes.
"As pessoas me dizem que o homossexualidade está começando a ser aceita no Irã. Eu digo que não, mas que pelo menos agora mais gente sai do armário."